Virgílio é um artista visual cuja principal forma de trabalho é o desenho extensivo, tentando relacioná-lo à várias outras linguagens como a escrita, a pintura, a arquitetura e a cultura popular e urbana. Ele utiliza diferentes materiais — como o grafite, a aquarela e o pastel —, explorando suas potencialidades e nuances. O artista trabalha simultaneamente com vários elementos em um único desenho, reunindo questões que normalmente não estariam em proximidade, estabelecendo, assim, novas possibilidades e narrativas. O artista nos convida a olhar para sua obra como um todo, mas também chama nossa atenção para todos os seus detalhes.
Para o Rosewood São Paulo, Virgílio Neto criou uma obra de arte abrangente no Belavista Rooftop Pool & Bar, ao cobrir as paredes do foyer com a história imaginária da tia do Conde Taraz. O artista nos convida para uma viagem criativa em torno dos contos e histórias transmitidos por seus desenhos cheios de narrativas lúdicas. Ele também criou papéis de parede para alguns dos quartos do hotel. As partes interiores dos guarda chuvas do hotel são também com o seu desenho.
Virgílio Neto conta sobre seu trabalho:
“Gosto de pensar em meu projeto, o afresco que criei para o foyer do Belavista, como uma grande paisagem. Mas não aquela ideia estabelecida de paisagem como uma imagem a ser contemplada, emoldurada, fixa e congelada no tempo”. Eu apresento uma paisagem encantadora, quase um convite para uma viagem. Há muitas paisagens: desenhos, pinturas, textos, gráficos, mapas e labirintos. Não estou interessado em definições; talvez o grande poder do trabalho seja este, em expandir a linguagem do desenho e permitir que ele coexista com tantas outras referências. Para viajar por esta paisagem, não há portas definidas para se entrar, porque aqui tudo é um começo — nada tem um fim. É uma obra que não somente pode ser vista, mas também lida, como um grande livro aberto. Há muitos caminhos a serem percorridos. Cada olhar fará uma viagem, uma leitura, e cada um poderá ter sua própria experiência e criar sua própria história. É um desenho vivo, que é sempre renovado a cada vez que alguém se inclina sobre ele. Esse desenho paisagístico é também um convite para fazermos um tour pelo Brasil. Qual Brasil? Eu não sei. O Brasil é uma ideia? É um país? É uma luta? Para mim, o Brasil é, acima de tudo, uma febre, um susto. O Brasil é uma ferida profunda, mas sempre um projeto/paisagem em construção. Assim, aceitei o desafio de tentar desenhar sobre meu país e fui pesquisar os elementos de sua fauna, flora, cultura popular, arquitetura etc. para compilar e desenhar imagens que serviram como base para o projeto. Também me deixei levar pela intensa experiência de trabalhar in loco por dois meses, em meio ao trabalho de construção e restauração. Essa rica experiência permitiu que eu incorporasse ao meu trabalho as histórias que ouvi, as lembranças dos funcionários de como era o lugar antes da reforma. Eu desenhei plantas que vi serem trazidas diariamente para o Cidade Matarazzo e aceitei as sugestões das dezenas de pessoas que passavam pelo local todos os dias e conversavam comigo sobre os meus desenhos. João Ubaldo Ribeiro (o falecido escritor e cronista brasileiro) já disse em seu livro Viva o Povo Brasileiro: ´O segredo da verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem histórias´. Portanto, posso dizer que meu trabalho transmite essas histórias. Ali, eu falo de lugares, animais, plantas, pessoas, lendas… mas cuidado: nada é nosso. Nós viajamos, descobrimos animais, amamos e perdemos pessoas, inventamos lendas, desmatamos florestas e cultivamos jardins. Mas, em última análise, temos apenas nossas histórias e os caminhos que traçamos até agora.”
Saiba mais em: virgilio-neto.com