Enquanto estudava História e Antropologia na Sorbonne, viajou diversas vezes para a Polônia e até para a Sibéria, desenvolvendo seu primeiro trabalho fotográfico. Começou a trabalhar como fotojornalista, mas ingressou na École Nationale des Beaux-Arts em 1997, descobrindo o Brasil durante um intercâmbio feito com uma bolsa de estudos da Collin-Lefranc, na FAAP, em São Paulo, entre 1999 e 2000.
De 2002 a 2008, desenvolveu o projeto “Olhares do Morro” na favela Santa Marta, no Rio de Janeiro, de onde surgiriam jovens fotógrafos que expuseram nos Encontros da Fotografia de Arles, na sede da UNESCO em Paris, em Estocolmo e até na Art Basel / Miami Beach.
Um dos seus principais canteiros de pesquisa visual é a cena carioca dos bailes funk, que documenta desde 2005. Em 2007, os protagonistas do funk carioca o levaram a adentrar o Carnaval das turmas de bate-bola da Zona Norte do Rio de Janeiro. Já em 2008, começou a fotografar a cena das aparelhagens de Belém do Pará — trabalhos de longo prazo, em constante evolução.
Queria que os hóspedes e visitantes do Rosewood São Paulo pudessem experimentar, ao perambular pelos corredores, um encontro repentino com criaturas que povoam o Carnaval das Zonas Norte e Oeste do Rio de Janeiro: os bate-bolas. Tudo em suas aparências atinge os sentidos — a justaposição ousada de cores brilhantes, vestidos inflados por metros e metros de tecido, brilho e purpurina, pintados à mão ou com serigrafias que evocam cenas de desenhos animados americanos revisitados ou trechos da história do Brasil.
O espetáculo da saída dos bate-bolas nos leva a um estado de emoção primitiva — uma catarse ritmada, seja pelo som aterrorizante que emitem, seja pelos funks tocados pelas Equipes (paredões) de som. Num clamor repentino, o rio de cores dos "Clóvis", amontoados em nuvens multicoloridas, faz da saída um evento ensurdecedor, com fogos de artifício, gritos, o barulho das bexigas batendo no chão, das sombrinhas zunindo no ar. A agressividade relativa e simbólica de algumas turmas é da ordem do simulacro, do ensaio: catarses da violência real que atravessa a cidade e o país. Soa como o princípio de uma revolta ou de uma revolução prestes a tomar a cidade.
Durante os dias de saída e circulação dos bate-bolas, favelas e bairros abandonados pelo Estado revelam seu irredentismo e sua verdadeira natureza: são o núcleo da alma da cidade, de sua criatividade, riqueza e gênio. Uma arte de rua autossustentável transfigura a vida cotidiana. Vestindo as fantasias, os bate-boleiros parecem incorporar uma entidade: algo nos dizem sobre a condição humana, sobre a necessidade vital de mais arte na vida.
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