Arassari Pataxó, nascido dentro do Parque Nacional do Monte Pascoal, pertence a uma comunidade formada por 274 famílias que vivem da agricultura, pesca e produção de artesanato. Cacique e artista plástico, Arassari é graduado em Direito e atua ativamente na defesa dos povos indígenas e na proteção ambiental. Entre suas iniciativas, destaca-se o plantio de 60 mil árvores nativas da Mata Atlântica e o trabalho de recuperação de dois rios em seu território. Para ele, a arte é uma ferramenta poderosa, capaz de transportar a voz dos Povos da Floresta e fortalecer o elo com a Mãe Natureza.
No Rosewood São Paulo, Arassari dedicou sua obra ao espaço de chegada do Ballroom. O mural foi realizado com a participação dos grupos Guerreiros Aratu Pataxó e Yapuru Pataxó. Ele enxerga esse local como um espaço simbólico de voz para os Povos Nativos. Como diz o artista: “Acredito que: onde não podemos estar presentes, nossas artes falam por nós.”
A obra “Jibóia”, criada exclusivamente para estar sob a capela Santa Luzia , representa a raiz e a memória de Pindorama — nome ancestral do território hoje chamado Brasil. A instalação remete a um tempo em que a natureza abundante coloria o país e a espiritualidade dos Povos Originários era vivida em harmonia com o sagrado. Com a chegada dos colonizadores, grandes igrejas foram erguidas sobre os corpos de antepassados indígenas e o processo de catequização iniciou a construção da primeira colônia portuguesa fora de Portugal.
Segundo os anciãos, “nossas raízes estão plantadas nesse solo sagrado” — por isso, a escolha de posicionar a obra sob a capela não é aleatória. A “Jibóia” simboliza a presença contínua dos Povos Originários, sua fé e sua conexão com a terra. A serpente, nesse contexto, representa proteção; os grafismos em seu corpo evocam o sagrado e seus mistérios; e os elementos vegetais revelam os conhecimentos ancestrais de cura e medicina que emergem da floresta. Mesmo sem figuras humanas, a obra transmite a energia e a presença dos povos indígenas em cada traço, textura e relevo.
Mais do que uma escultura, “Jibóia” é um manifesto silencioso diante das ameaças crescentes ao meio ambiente e à cultura indígena. Ao percorrer a grande floresta retratada, sem rios nem outras espécies visíveis, o espectador é confrontado com a realidade alarmante do país: 73% dos rios estão poluídos, os incêndios e desmatamentos se intensificam, e a biodiversidade enfrenta um grave risco de extinção. Frente a esse cenário, Arassari lembra que os Povos Originários protegem cerca de 90% dos ecossistemas brasileiros, sendo os verdadeiros guardiões da natureza.
A obra também propõe uma reflexão sobre a convivência entre diferentes formas de fé e espiritualidade no Brasil, reforçando a necessidade de respeito às crenças dos Povos Originários. “Jibóia” desperta consciências e convida cada visitante a sentir — com o corpo e com a alma — a força viva da Mãe Natureza e daqueles que a defendem.
A participação de Arassari Pataxó no projeto foi apresentada à curadoria pela artista e designer Maria Fernanda Paes de Barros, criadora da Yankatu (https://mariafernandapaesdebarros.com.br/).
Saiba mais em: https://www.instagram.com/arassari_pataxo/